Elitizar a Cachaça?

  • Publicado 13 anos atrás

Valorizar a cachaça não é elitizar a cachaça

Falar em valorizar a Cachaça é falar em elitizá-la? Está posta aí uma questão delicada para um produto que fez a fama baseado justamente em seu caráter popular e ligado aos costumes da terra. Tirá-la desse universo de “batismo” seria “desvirtuá-la” ou negar sua “verdadeira essência”. Se falar em “cachaça valorizada” é falar na bebida vendida apenas para ricos, em sofisticadas boutiques, etc., “prefiro continuar com a minha branquinha do jeito que está”. São dizeres como esse que surgem frequentemente quando o assunto é a valorização da bebida nacional.

E eu não ousaria dizer que quem pensa assim está errado. Muita coisa que veio do “popular” para o território da “elite” passou a ter um status exacerbado, com preços altíssimos mas, por isso mesmo, com menos valor do que o produto dito “verdadeiramente da terra”. No entanto, não posso deixar de constatar que esse mesmo pensamento pode estar sendo, sim, uma trava para a valorização de nossa bebida.

Até hoje não se serve Cachaça em formaturas, casamentos, ou nas baladas dos jovens de classe AB. A tradição é levar para as festas uma garrafa de whisky, não de Cachaça “Premium”. Não se encontram caipirinhas verdadeiras nos bares e restaurantes, e, nos supermercados, ela ainda está nas últimas prateleiras, empoeiradas e escondidas – e é mais fácil encontrar um bom vinho de Bordeaux do que uma Cachaça produzida em sua própria região. É a tudo isso que me refiro quando digo que ela não é “valorizada” ou “respeitada” na nossa sociedade hoje. O que mais surpreende é que ela tem todas (ou quem sabe, até mais, em certos aspectos) as condições para o ser.

É preciso sim trazer a Cachaça para este público. Isso não quer dizer que vamos “elitizá-la”. Por acaso quem toma “caipirinha” de vodka ou de saquê hoje são pessoas da multimilionária elite brasileira? Não exatamente, certo? São essas pessoas que tem condição de adquirir uma bebida de qualidade, e que favorece o pequeno produtor que conserva até hoje o espírito da Cachaça bem feita, ou até de grandes grupos capazes de trazer este tipo de trabalho para um público mais amplo. São essas pessoas (tanto consumidores quanto produtores) que podem ajudar a garantir o real valor que a Cachaça merece no Brasil e no mundo.

É verdade que uma elevada de alguns preços deve ser feita sim. Acho irresponsabilidade, se não somente do governo, mas também dos próprios varejistas, disponibilizar tais produtos a tais preços. Mas ainda é possível ter Cachaças custando menos que a vodka ou o whisky, e, claro, ter também aquelas que custem mais caro que estas outras bebidas. Esse não é o ponto: há, e deve continuar havendo, Cachaça para todos os bolsos e paladares. No entanto, há uma série de outras riquezas escondidas na Cachaça que não são traduzidas apenas em reais. Afinal, “valor” não é assunto que significa simplesmente “dinheiro”. A Cachaça que o diga, não é mesmo.

Foto: usuário tao_zhyn, do Flickr (reproduzida sob licença Creative Commons).

 

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