Felipe Jannuzzi

Territórios da Cachaça: Januária - Minas Gerais

  • Publicado 2 anos atrás

No norte de Minas Gerais, às margens do rio São Francisco, localiza-se Januária, cidade que já teve na produção de açúcar e aguardente sua principal fonte de renda.

No Mapa da Cachaça lançamos a série Territórios da Cachaça. No artigo apresentamos o território de Januária, cidade que junto com Salinas, representa a força da cachaça no norte de Minas Gerais.

Breve histórico da cachaça de Januária

Outrora, Januária foi referência em produção de cachaça artesanal pelo clima propício para a plantação de cana-de-açúcar, cultura que se estabeleceu na região com as primeiras mudas que chegaram do Recôncavo Baiano no século XVIII. A importância do rio São Francisco para o transporte de mercadorias e a identidade dos aromas e sabores das cachaças locais, oriundos do armazenamento da bebida em barricas de amburana, também contribuíram para o sucesso da produção de Januária. Mas a ganância de alguns produtores, primando pelo aumento do volume em detrimento da qualidade, a concorrência com outros polos de produção, a falsificação, a falta de incentivo e a perda da importância de Januária como entreposto comercial no fim da década de 1960 foram alguns fatores que levaram ao fim da fama de terra da cachaça.

“Saltem um cálice de branquinha potabilíssima de Januária, que está com um naco de umburana macerando no fundo da garrafa!”

Guimarães Rosa,  “Minha gente”, Sagarana

Durante o início do século XX, começou a ser produzida uma cachaça chamada Januária, que conquistou fama ao longo de várias décadas. A cidade onde era fabricada tornou-se reconhecida como sinônimo de cachaça. Durante os anos 1920, os produtores decidiram expandir e vender a Januária para os barqueiros que navegavam pelo rio São Francisco. Nessa mesma época, os comerciantes locais protagonizaram o surgimento de diversas engarrafadoras, dando origem a marcas conhecidas, como Claudionor, Caribé, Januária Centenária, Aquino e Januária Única, entre outras.

A alta consideração pela bebida entre os conhecedores permaneceu intacta até meados da década de 1960, quando a reputação e a credibilidade das cachaças produzidas em Brejo do Amparo foram manchadas devido a uma onda de falsificações.

Durante os anos 1930 e 1940, uma transformação substancial ocorre no setor comercial, à medida que as usinas começam a receber apoio das políticas implementadas pelo Instituto do Açúcar e do Álcool (IAA). Criado em 1929 com o propósito de regular a produção e estabilizar os preços, o IAA tinha como objetivo proteger a posição do produto brasileiro no mercado global.

Com o intuito de alcançar tais objetivos, o IAA implementou um sistema rigoroso de distribuição de quotas, divididas entre unidades produtivas distintas, incentivando assim a centralização da produção em usinas de grande porte, capazes de fabricar em larga escala. Tal medida resultou na desarticulação da produção tradicional de açúcar por engenhos.

A partir dos anos 50, testemunhamos um declínio gradual na produção de açúcar nos engenhos, resultando em apenas algumas poucas manifestações remanescentes hoje em dia. Em contraste, observa-se um aumento cada vez maior na produção de rapaduras e aguardente nas regiões de menor atividade econômica do estado.

Minas Gerais se destaca nas estatísticas como o estado com a maior quantidade de engenhos em todo o século XX no Brasil. Em alguns momentos, Minas chegou a superar a soma dos engenhos de todos os outros estados do país.

Dados do Anuário Estatístico de Minas Gerais para o ano de 1922/25 e do Censo Agropecuário do IBGE para o ano de 1995/96 mostram que o número de engenhos caiu de 32.928 para 23.626 nesse período. Deste total, foram registrados 14.817 engenhos de fabricação de rapadura, 343 engenhos de açúcar, 8.466 engenhos para produção de aguardente, 956 engenhocas de garapa e 910 para a fabricação de melado. São mais de 600 marcas diferentes de cachaça em Minas Gerais, resultado de um novo dinamismo na fabricação da bebida.

Salinas, localizada na região norte de Minas, tornou-se o maior polo de produção de cachaça artesanal do país. A área reúne 25 produtores e 109 agricultores familiares que fazem parte da Associação dos Produtores de Cachaça Artesanal de Salinas (APACS). Juntos, eles contribuem para a produção de 5 milhões de litros por ano.

dorna de amburana de januária
Identidade de Januária; armazenamento de cachaças estandardizadas em grandes dornas de amburana
cachaça claudionor
A aguardente Claudionor, da família Carneiro, a principal representante desse território.

Características de produção da cachaça de Januária

Os pequenos produtores continuam trabalhando com grandes engarrafadoras que mantêm a tradição da cidade em produzir cachaças estandardizadas, armazenadas em tonéis antigos de amburana.,

Teor alcoólico: 44-48% (potentes)

cana: variedades conhecidas como pé-duro

fermentação: leveduras selvagens e uso do fubá de milho e outros substratos

madeiras: majoritariamente a amburana

cor: amarelo-palha

famílias aromáticas e sensações: Vegetal (grama), adocicada (garapa, melado), especiarias (canela), medicinal, adstringente, picante.

Rio Sao Francisco

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