Colecionar cachaças: um amor, um negócio, um resgate

  • Publicado 2 anos atrás

Conheça a história de Orlando Osmar Regis, um curitibano que fez de sua coleção de cachaças uma semente para bons negócios e para redenção de uma marca histórica de aguardente 

“O homem ama, porque o amor é a essência da sua alma. Por isso não pode deixar de amar.” Esta frase proferida pelo escritor russo Liev Tolstoi poderia ser a síntese da história de Orlando Osmar Regis, um empresário paranaense que há mais de 40 anos dedica a vida a exaltação da cachaça como uma bebida de excelência. 

Atuando como um dos maiores colecionadores do Brasil, um ativo divulgador cultural, um empresário resgatador de marcas históricas e um consultor para lançamento de bebidas no mercado internacional, este legítimo cachaceiro de múltiplas facetas transformou uma casa localizada na rua Coronel José Carvalho de Oliveira, na bela Curitiba, numa espécie de templo da aguardente nacional: a cachaçaria Regui Brasil, um ponto de encontro em que amantes da cachaça se reúnem para confraternizar e ouvir as muitas histórias de um apaixonado que já viajou os quatro cantos do Brasil e conheceu mais de 160 alambiques.

A relação de amor entre Orlando e a cachaça se iniciou na década de 1970, quando ainda moço, começou a colecionar o destilado.

“Comecei com cerveja, mas naquela época não tinha muitas opções no mercado. Logo me veio a ideia de colecionar cachaça. Naquele tempo, eu nem consumia, mas cada vez que ia ao mercado procurava novidades. Alguns amigos e familiares foram me ajudando, assim como a minha esposa, minha parceira de aventuras, que viajava bastante a trabalho e sempre me trazia alguma cachaça de outros lugares do Brasil”, relembra.

Orlando Osmar Regis, colecionador de cachaças
Colecionador de cachaças Orlando mostra acervo para visitantes, no fundo prateleiras de madeira cheias de garrafas de cachaça
O acervo possui mais de oito mil rótulos distintos e mais de 10 mil garrafas. (Foto: arquivo pessoal/Orlando Regis)

Cinco décadas após o início de uma coleção que começou sem maiores pretensões, Orlando se destaca com o maior acervo particular de cachaças da região sul do país com mais de oito mil rótulos distintos e mais de 10 mil garrafas. Entre suas preciosidades estão variadas garrafas da apreciada cachaça Havana, a exclusivíssima Tonel 8, produzida em homenagem ao arquiteto Oscar Niemeyer,  e garrafas das mais antigas da aguardente cearense Ypióca.

De tão importante, este acervo paranaense já ajudou até mesmo na reconstituição da história da cachaça no Brasil. Graças a coleção de Orlando foram descobertas informações importantes como a revelação de que, num passado recente, Curitiba alocou uma grande variedade de produtores de aguardente.

“Comprei uma coleção com mais de mil garrafas de outro colecionador e acabei descobrindo algo muito interessante: descobri mais de duzentos rótulos produzidos em Curitiba durante as décadas de 1940 até 1970. Uma verdadeira surpresa, pois na cidade não se plantava nenhum pé de cana-de-açúcar”, explica.

Das garrafas com design mais moderno às tradicionais “branquinhas” de 600 ml com rótulo desbotado pela ação do tempo, a coleção deste comerciante aposentado aponta todas as transformações que a indústria da cachaça sofreu no último meio século. Ao refletir sobre o começo da trajetória de colecionador, Orlando rememora um tempo de preconceitos em que cachaça era sinônimo de problemas para a sociedade. Um pensamento que tende a ficar no passado graças às ações dos produtores e consumidores.

“Antigamente, um pai de família era mal visto perante a sociedade só por gostar de cachaça. Mulheres consumidoras era algo inimaginável. Fico muito feliz por ter presenciado essas transformações. Hoje a situação mudou. Minha esposa, por exemplo, pode não só consumir com suas amigas, como proferir palestras sobre o tema. A cachaça saiu dos botecos e ganhou o mundo graças ao esforço dos amantes da cachaça e dos produtores que aos poucos foram mudando a mentalidade da sociedade”, avalia.

Regui Brasil, um lugar para a formação da cultura cachaceira

Mais do que um colecionador, hoje Orlando também é conhecido como um empreendedor do universo cachaceiro: um sonho realizado a partir da aposentadoria quando ele trocou o comércio de autopeças pela cachaçaria Regui Brasil. Indagado sobre o porquê da mudança, o cachaceiro paranaense explica que quis construir mais do que um comércio e um lugar de confraternizações. Orlando conta que pretendeu criar um espaço para educar o público e assim construir uma nova geração de degustadores e apreciadores que entendam a cachaça como um produto nobre que deve ser consumido com moderação e parcimônia. 

“Ainda existe no Brasil uma ideia errada de que a cachaça deve ser consumida de qualquer jeito e que se deve tomar tudo. Cachaça é um destilado que deve ser degustado e apreciado,  se sentindo tudo nos mínimos detalhes, da percepção das madeiras na concepção do sabor até cada fragrância única. Elaborei a Regui Brasil tendo isto em mente e fico muito feliz em ajudar um novo público  que vai desde indivíduos que anteriormente tinham preconceito com a cachaça aos mais jovens educados para degustar e aproveitar o melhor de cada bebida.”

O local, que abriga a maior parcela da coleção do empresário paranaense, deverá ganhar mais uma atração em breve. “A ideia é fazer um espaço exclusivo para bartenders cachaceiros realizarem, entre outras coisas, cursos e workshops. “Esses profissionais merecem uma atenção especial porque eles são grandes divulgadores contemporâneos da cachaça”, declara. 

Orlando também revela que num futuro próximo quer criar um museu dedicado à cachaça em Curitiba. “Conversei com um amigo colecionador e a ideia é num futuro juntarmos forças com nossas coleções para elaborarmos um espaço que conte a história da cachaça no Brasil, mas que também se transforme num ponto turístico para a cidade.”

Cachaça Trivisan, o resgate de uma história centenária

De todas as realizações já conseguidas em cinco décadas de amor à cachaça, uma em especial enche de orgulho o colecionador e empresário paranaense. Recentemente, em 2020, Orlando trouxe de volta ao mercado a lendária cachaça Trivisan que havia sido descontinuada em 2008 quando teve sua fábrica comprada por outra destilaria.

 “O fechamento da Trivisan foi uma tristeza porque esta marca contava uma bela história. Com muito estudo, procurei a antiga família detentora da marca para saber com quem estava a Trivisan. Depois de alguns anos acabei adquirindo a marca e hoje a história está viva mais uma vez.”

Nas mãos de Orlando Osmar Regis, a Trivisan, empresa que começou às atividades em 1923 e foi uma das pioneiras da produção de cachaça em latas ainda na década de 1960, tem voltado a se tornar sinônimo de qualidade com produtos artesanais fabricados em parceria com grandes alambiques de todo o país, o que já garantiu frutos como a Medalha de Prata no Concurso de Vinhos e Destilados de São Paulo. 

“A Trivisan é uma cachaça histórica e por isso resolvi trabalhar só com produtores da minha extrema confiança. Atualmente, contamos com cachaças envelhecidas em madeiras brasileiras, carvalho europeu e americano e estamos estudando o lançamento dos nossos produtos no exterior. É uma história que vai seguir firme.”

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