Em 2011, algumas associações de produtores de vinhos, capitaneados pela Ibravin (Instituto Brasileiro do Vinho), entraram com pedido de salvaguarda para o mercado de vinho nacional no país. Isso, segundo eles, para proteger a venda de uma bebida nacional, que vinha decaindo bruscamente desde o início dos anos 2000, perdendo fortemente para os importados.
A proposta analisada pelo governo poderia resultar numa diminuição da oferta de bons vinhos no país, já que estabeleceria cotas para importação. Enfurecida, quase toda a comunidade enófila se exaltou contra as medidas; dezenas de blogueiros se manifestaram; consumidores se colocaram ativamente contra e alguns chefs renomados, em protesto, chegaram até a tirar vinhos nacionais de suas estantes. Podem ter completa razão, mas eu não estou aqui exatamente para entrar neste debate. Quero apenas apontar alguns pontos que interessam a nós, que trabalhamos pela Cachaça.
Siga-se o raciocínio. Você já pode ter vivenciado isto na prática: tirando alguns brancos e, principalmente, os espumantes, o vinho brasileiro (tinto) de qualidade é caro. Chega a ser mais caro que um similar importado. Será que a saída é, então, limitar a entrada do concorrente ou tentar diminuir os preços? Como pergunta o blogueiro e enófilo Mauricio Tagliari, não seria mais lógico reduzir os impostos? Claro que sim.
Agora vamos a nossa bebida: questão semelhante acontece entre a Cachaça Premium e a vodka de qualidade razoável – infelizmente ainda preferida por muitos brasileiros no que eles chamam de “caipirinha”. O drink com Cachaça de qualidade pode ser, em muitos bares, mais cara do que sua versão deturpada (com vodka). E por quê? Porque os custos de produção e principalmente os impostos ainda são muito altos para o pequeno produtor de Cachaça. Tudo isso acaba favorecendo a então “concorrente”. Diminuindo os impostos que incidem sob a branquinha, ela ficaria ainda mais competitiva em relação à vodka; assim como o vinho nacional se tornaria mais atrativo que o importado, e não necessitaria de reserva de mercado para garantir a sobrevivência de sua produção de qualidade.
Tagliari ainda dá mais uma ideia muito bacana, e que também se aplicaria, talvez, à Cachaça: a da prática do imposto ad rem, ou seja, um custo fixo por garrafa de vinho/Cachaça. Assim, aquele litrão de aguardente vendido no supermercado a menos de R$5,00 teria que embutir em seu preço uma taxa fixa (de, por exemplo, mais R$5,00), que seria menos perceptível numa Cachaça de qualidade de R$30 ou R$40. Ajuda o pequeno produtor, e protege o mercado da inundação de bebidas muito baratas, e de baixa qualidade.
Mas, é claro, ainda há que se pensar sobre isto – e muito. O que fica de lição é que “forçar” os consumidores a uma escolha (seja de vinho ou quiçá de Cachaça) não é o caminho mais estratégico. Estejam os produtores com razão ou não, o que é fato é que eles provocaram a ira de muita gente e acabaram por atingir o oposto de seu objetivo: o repúdio ao vinho nacional (leia aqui: Fasano e Dom tiram vinhos nacionais das estantes). Deste modo, a campanha recém lançada pelo Ibravin (“Diga Sim aos Vinhos do Brasil”) pode acabar até descredibilizando um produto que tem, sim, imenso valor. Acredito que medidas estratégicas a longo prazo, para resguardar a produção de qualidade de bebidas nacionais (vinhos, espumantes ou mesmo a Cachaça) estão mais do que na hora de serem tomadas. Mas, é claro, com bastante cautela.
FONTES CONSULTADAS:
BLOG DO TAGLIARI: http://terramagazine.terra.com.br/blogdotagliari/blog/2012/04/21/protecionismo-ao-vinho-brasileiro-solucao-ou-erro-crasso/
http://www.mistral.com.br/vinho/salvaguardas/
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