Renato Figueiredo

Estrangeiros, Marketing e Cachaça

  • Publicado 12 anos atrás

Os estrangeiros estão investindo em cachaça

Vamos lembrar de grandes marcas brasileiras? Havaianas, da Alpargatas. Casa Bahia. Guaraná Antártica e cerveja. E outras menos óbvias como Boticário, Habib’s e Caloi. Todas marcas duradouras, ainda contemporâneas, e que estão até hoje fazendo grande sucesso aqui dentro e, algumas vezes até lá fora. Sabe o que elas têm em comum, além de serem ‘brasileiras’? Todas foram fundadas, ou co-fundadas, por executivos estrangeiros radicados aqui.

A história do Brasil foi construída pela mão de muitos brasileiros, é fato, mas brasileiros esses que também parecem ter contado com gente de fora para valorizar sua própria cultura e, principalmente, capacidade. Comecei a notar esse “fenômeno” já no mundo da fotografia. Nomes como Pierre Verger, Thomaz Farkas (!): sempre uma pronúncia difícil ao falar de algo super brasileiro. Houaiss (o dicionário): tem muito estrangeiro envolvido quando o assunto é Brasil.

E o que isso tem a ver com Cachaça? “Tem a ver que o seguinte”: quando ‘cheguei’ no universo da Cachaça de repente me deparei com um fenômeno parecido – estrangeiros estavam investindo mais tempo e esmero na divulgação e valorização da Cachaça do que nós próprios brasileiros. Isso pode parecer uma grande ameaça, principalmente para quem vê a história do Brasil com os olhos que eu vejo, que enxergam um país vendido ao exterior, aberto ao capital estrangeiro, e pouco cuidadoso ou preocupado com suas riquezas. Falar em “estrangeiro” é sempre uma grande ameaça.

Alguns exemplos do que está acontecendo a gente conta nessa série de artigos chamados de Marketing da Cachaça.

No entanto, temos que prestar atenção e sermos, talvez, mais cuidadosos em relação a isso. Existem marcas de Cachaça lideradas por executivos estrangeiros, tais como Cachaça Cabana, Cachaça Leblon, Água Luca e uma por mim recém descoberta Soul, que têm feito um interessante trabalho de marketing pela brasileirinha. Será que mais vale uma marca 100% nacional que exporta seu produto a granel, quase como uma commodity, para ser vendido no exterior com outra marca, ou uma marca “pseudo-nacional” como algumas dessas, fundada por não brasileiros, mas que valorizam mais do que nós próprios a cultura brasileira?

Não acho que todas as campanhas e iniciativas sejam válidas (vocês verão posts ainda sobre isso), mas também acho que temos excelentes trabalhos sendo feitos aí. Acho que é louvável, e temos muito a aprender com eles. Nem que seja para entender  que quem enxergou a oportunidade primeiro foram eles. Mas ainda há tempo de dizer que o Brasil também sabe fazer sozinho. Que o digam Luiz Seabra (Natura), Amador Aguiar (Bradesco), Rogério Farias (Troler), Edson Moura (baterias Moura). Ou o pessoal da Germana, Sapucaia, Armazem Vieira, Canarinha, Rochinha, Serra Preta, Dona Beja, Santo Grau, Tabaroa, Nêga Fulô, Volúpia, Casa Bucco, da Tulha, Maria Izabel, Magnífica, Claudionor, Vale Verde, Havana e até da… Weber Haus.

 

Em tempo: Weber Haus é o nome de uma marca de Cachaça produzida no sul do país. Mas tem nome quase tão complicado como Houaiss! E todas as outras não são escolhidas aleatoriamente: tratam-se de todas as marcas que, como a última, fizeram bonito e foram selecionadas no Ranking Playboy da Cachaça de 2009.

Foto: Ana Carmen, usuária Flickr, sob licensa Creative Commons.

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