Uma montanha. Lá no fundo. Tem uma névoa preguiçosa das 6 horas da manhã e
tem um caminho. Silêncio.
Dá pra escutar o barulho do chinelo coçando a terra.
E isso é bom. Tão bom que ninguém nem percebe.
Passa conduzindo a carroça, devagar, assoviando, imaginando nada além do
caminho, da roça, da volta, da Luana passando o café, os moleque acordano.
Pensa na Rosinha também, mas só de brincadeira.
Ah, Rosinha.
Firma o pensamento no trabalho. Trabalha. Vixi, trabalha muito e mais um
pouquinho e aí para. Para pra almoçar. Senta embaixo de uma sombra que
arruma, come a boia, faz carinho no Cigano, fuma um cigarro enrolado, encosta
e espera o sol baixar um pouco. Molha a boca na moringa. Espreguiça gostoso.
Volta pra roçar mais um pedaço de terra, longe de casa, olha em volta e vê o
verde indo embora até a estrada, lá embaixo, na ribanceira. Passa carro de vez
em nunca. Quando precisa, pega carona na Rural do dono da venda, compra o
tecido que a Luana pediu e volta a pé – não gosta da cidade e, pra falar a verdade,
tem medo de ficar preso lá, por isso não espera nem a carona de volta.
Volta, passa pela venda, suado.
Senta no balcão, escuta um modão tocando no radinho. É atendido pela filha do
dono.
– Me vê uma branquinha, Rosa?
Ela responde com um sorriso corado .
Ele prova a bebida devagar, vê o sol indo embora feliz e, quando termina, volta
pra casa, pra Luana, pros menino ino dormir.
E nem pensa no outro dia.
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