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ReporEntre os vários significados possíveis de serem encontrados no dicionário para a palavra tradição, um em especial aponta para costumes que passam de geração em geração. Para que algum hábito se transforme em tradição, ele precisa vencer modismos e ser absorvido culturalmente por um certo grupo de pessoas. Assim aconteceu com a utilização do copo americano para servir bebidas, uma prática incorporada de maneira tão popular nos bares brasileiros que virou uma espécie símbolo dos botequins.
Porém, o que poucos sabem é que de americano, este nosso clássico companheiro não tem nada. Conhecido também como copo lagoinha, ele é uma invenção brasileiríssima como o samba, a feijoada e a nossa cachaça.
Não foi um design importado que batizou o copo americano, como insinua o nome, mas sim a sua história. Precisamente, a cronologia do copo americano começa em 1947 quando uma empresa paulista importou maquinário dos Estados Unidos visando aumentar a produção de artefatos de vidro. Tal dispositivo, capaz de produzir mil copos num intervalo de oito horas, foi importante para abastecer o mercado brasileiro em franca expansão no pós-guerra.
A praticidade na produção diminuiu consideravelmente o preço do copo facilitando a reposição do item em bares e restaurantes. A versatilidade para servir desde o cafezinho até a cachaça ocasionada pela capacidade de 190ml de conteúdo tornou o copo americano um sucesso.
De acordo com projeções da fabricante oficial do modelo, em 75 anos de história, 7 bilhões de copos americanos originais foram vendidos. A imagem junto aos bares e restaurantes tornou-se algo indissociável e consequentemente quando pensamos no item logo lembramos de bons momentos em que apreciamos bebidas com os amigos.
A resposta não é óbvia e vai além de questões referentes à tradição e nostalgia. Por isso, ouvimos quartro especialistas cachaceiros de diversas vertentes para elaborar um guia sobre a questão do copo, um parceiro que muitas vezes é ignorado, mas que pode fazer uma grande diferença para degustação das melhores cachaças.
Felipe Jannuzzi é criador do Mapa da Cachaça, responsável pela produção de Virga, primeiro gin artesanal brasileiro e sócio da BR-ME, empresa especializada em oferecer produtores e experiências brasileiras.
Uma parte considerável da sua vida profissional é dedicada em provar aromas e sabores de bebidas destiladas de qualidade, como a cachaça. Ele nos traz sua visão sobre o assunto.
“Eu sou fã do copo americano pela versatilidade. Ele funciona bem para tomar chá, café, cerveja, cachaça e até coquetéis, como o Rabo de Galo. O seu tamanho, sua presença massiva em bares e restaurante, o seu preço acessível e todas as suas possibilidades de consumo fazem do copo americano o canivete suíço dos amantes das bebidas tão tipicamente brasileiras.
brinca Felipe
Nas viagens que Felipe fez pelo Brasil, o especialista encontrou diversos recipientes usados para beber cachaça – de taças sofisticadas de cristal até cuias artesanais. Mas o especialista pondera que tradição e consumo no dia-a-dia diferem de uma experiência profissional de degustação, que pede uma taça específica.
Para a sommelière, bartender e autora de livros sobre bebidas Deise Novakoski, antes de responder a pergunta é preciso saber para que finalidade será utilizado o copo em questão. Independente da bebida, Novakoski aponta que avaliações técnicas só devem ser utilizadas em copos padrão ISO. Um artefato desenvolvido pela International Standardization Organization (ISO) com características específicas de materiais e meticulosas medições elaboradas para acondicionar as particularidades do líquido em questão.
Para quem não trabalha profissionalmente com cachaça e outras bebidas, Deise Novakoski afirma que também é necessário algum tipo de cuidado para a seleção do copo. “Dependendo do copo e do tipo de bebida que você servir nele, a escolha poderá realçar ou depreciar os aromas”, afirma a especialista que não vê problemas na seleção do copo americano, mas que também não vê maiores vantagens no tradicional costume.
Maurício Maia, profissional especializado em bebidas destiladas pelo WSET (Wine and Spirits Education Trust) de Londres e colunista do blog “O Cachacier” no caderno Paladar do jornal O Estado de São Paulo é um entusiasta da utilização do copo americano para apreciação da cachaça. Amante da tradição e da cultura da gastronomia de boteco, Mauricio Maia conta que tatuou um copo americano no peito. Além da paixão, o cachaceiro observa algumas vantagens práticas do item que vão além de questões culturais.
Um dos nomes da nova geração de cientistas que estudam o segredo da produção das melhores bebidas, a Professora Dra. Aline Bortoletto trabalha em seus cursos e consultorias com taças ISO e mesmo em outros ambientes não tem preferência pelo copo americano, mas respeita as pessoas que gostam por motivos de tradição da utilização do popular cálice. Aline relata que prefere apreciar cachaça em taças e que tal escolha não tem a ver com sofisticação, mas sim por estes tipos de copos preservarem melhor importantes aspectos sensoriais específicos de cada bebida.
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