Eu infelizmente ainda não conheço o Maranhão. Além da vontade de tirar umas fotos dos belos lençóis maranhenses, uma curiosidade me faz querer visitar quanto antes esse estado brasileiro. Nas minhas pesquisas sobre aguardente, me deparo com a Tiquira – um destilado de mandioca muito popular no estado – que deve ter muitas curiosidades, lendas e histórias, assim como a Cachaça.
Antes da chegada dos portugueses, os índios brasileiros já bebiam um fermentado de mandioca chamado cauim, conhecido também como chicha de yuka e massato pelos povos amazônicos antigos. De acordo com o relato de Hans Staden (1525- 1579) no livro Duas viagens ao Brasil, após o cozimento em grandes panelas, as mulheres mascavam a mandioca, triturando-a com os dentes e enrolando-a no céu da boca. Elas mastigavam a mandioca com bastante saliva, cuspindo tudo num recipiente de barro com água. Aquela mistura fermentava com a ajuda das bactérias presentes na saliva, resultando numa bebida turva, espessa e com o gosto semelhante ao soro de leite.
Duas viagens ao BrasilA bebida era consumida por homens e mulheres durante as festas na tribo, além de fazer parte do ritual canibal, antes dos grandes banquetes. Com a chegada dos europeus, vieram também os alambiques, e o fermentado cauim, após a destilação, virou a aguardente tiquira – originária da palavra tupi Tikira, que significa líquido que goteja.
O destilado é produzido em diversas cidades do Maranhão, sendo bastante popular também em Tianguá, no Ceará. A tiquira é originalmente incolor, mas alguns produtores adicionam folhas ou flores de tangerina durante o processo de destilação, dando uma cor azulada que tende a clarear com o tempo. Infelizmente, o Ministério da Agricultura não reconhece essa prática da destilação com a tangerina, portanto, as marcas hoje formalizadas não têm esse lindo toque azulado na aguardente. Outros produtores informais adicionam um corante tóxico chamado cristal violeta (violeta de metila) que garante um vívido azul-arroxeado à bebida.
Os mais conservadores dizem que a tiquira é a verdadeira aguardente brasileira, já que a mandioca é genuinamente nacional. Para fortalecer essa identidade e proteger esse patrimônio, os produtores do Maranhão estão em busca de uma Indicação Geográfica reconhecida pelo INPI.
No Brasil, entre as bebidas destiladas da mandioca, apenas a tiquira tem legislação própria. Ela deve ser obtida a partir da destilação do mosto fermentado de mandioca e possuir teor alcoólico entre 38-54%.
A minha motivação para pesquisar cachaça – que é o grande tema do Mapa da Cachaça – é justamente conhecer os costumes e culturas do Brasil. Então, apesar de não ser um destilado de cana, a Tiquira se enquadra no tema da pesquisa, por isso é inevitável que ela apareça outras vezes por aqui.
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