No estado com a terceira maior densidade cachaceira do Brasil, conhecer o Engenho Nobre é uma experiência imersiva, que mistura arquitetura sustentável, turismo e muito conteúdo sobre cachaça. O mestre cachaceiro e produtor das marcas Cachaça Nobre, Cachaça Arretada e Cachaça Sapequinha, Murilo Coelho, prepara a degustação dirigida de sexta à segunda, para grupos pequenos, com hora marcada, ou como ele prefere dizer: “uma experiência Nobre”.
A Paraíba é terra de alambiques de longa tradição, como a cachaça São Paulo, Serra Limpa e Volúpia. Fundado em 2017, o Engenho Nobre logo percebeu que seria necessário mais do que produzir boa cachaça para se fixar no segmento, já que competir com os grandes e tradicionais produtores de cachaça de alambique do estado estava fora de cogitação.
A ideia inicial era comprar cachaça de um engenho parceiro para envelhecer. Projeto que foi-se alterando. “Nos meus primeiros mil litros de cachaça percebi que precisava aprender todo processo produtivo”, disse o proprietário da Engenho Nobre.
Murilo foi em busca de conhecimento e, hoje, é ele quem dá verdadeiras aulas sobre degustação de cachaça nas visitações, em feiras e vídeos que viralizam na internet, sendo considerado um importante disseminador da cultura cachaceira.
Murilo é engenheiro civil de formação. Um mineiro, nascido em Uberlândia (MG), que se mudou para a Paraíba para trabalhar no setor de infraestrutura. Depois de se afastar do mundo corporativo há cerca de dez anos, decidiu investir em novos projetos.
E na terra onde as cachaças brancas, geralmente armazenadas em inox ou freijó, reinam, ele foi tomado pela paixão da destilação e da criação de misturas exclusivas. Como é o caso da Cachaça Blend Nordestino, um projeto iniciado por Murilo, que reúne produtores de diferentes estados na criação de produtos excepcionais e colaborativos.
“Eu não vendo cachaça, vendo experiências”, diz Murilo Coelho, proprietário do Engenho Nobre, reafirmando o que está nos dicionários e integrado ao conceito da marca: a nobreza também surge da expressão de excelência.
Não por acaso o símbolo da Engenho Nobre é um N maiúsculo que se parece com uma taça ISO (International Standards Organization), copo certificado para degustações. Com essa filosofia, a Engenho Nobre já conquistou diversos prêmios, desde seu primeiro ano. Na galeria estão selos do Ranking da Cúpula da Cachaça, Concurso de Vinhos e Destilados do Brasil, Concurso Mundial de Bruxelas e a Competição Mundial de Bebidas Espirituosas de São Francisco.
À primeira vista a construção do Engenho Nobre, feita de paredes grossas e arredondadas pintadas de terracota e branco com teto em formato de cúpula, se destaca na paisagem da zona da mata paraibana. A origem dessa ideia vem do espaço. Mas é a prosa fácil de seu idealizador que garante o encanto desse engenho. “Queremos mostrar às pessoas uma nova forma de beber cachaça”.
O Engenho Nobre nasceu em Sobrado (PB), numa parceria com o Engenho Caruçu, mas desde 2020 está situado em Cruz do Espírito Santo, a 30 quilômetros da capital do estado, João Pessoa, após o fim da parceria comercial. Sendo uma destilaria relativamente jovem, seu fundador teve a oportunidade de fazer escolhas sustentáveis desde o início.
Como engenheiro, Murilo sempre acreditou na redução do impacto ambiental com processos alternativos de construção. Quando foi montar o próprio alambique soube que era hora de aplicar parte do que tinha visto na faculdade.
O barracão da fábrica usa eucaliptos tirados da propriedade. A cobertura é de telhas ecológicas provenientes de reciclagem. O sistema de tratamento e reaproveitamento de efluentes aplica o modelo de evapotranspiração realizado por plantas, mas o destaque da sustentabilidade está na área de envelhecimento.
As paredes do armazém com cerca de 40 centímetros de espessura utilizam o material mais ecológico, durável e abundante: a terra. A técnica aplica bobina de sacaria contínua – conhecida como malha raschel, a mesma utilizada em embalagens de frutas e legumes -, preenchidas com terra da propriedade. Depois compactadas em fiadas que garantem resistência, uma estética que parece até coisa de outro mundo e, principalmente, conforto térmico e de umidade, dois fatores que influenciam diretamente no envelhecimento da cachaça.
A técnica construtiva aplicada no Engenho Nobre é conhecida como hiperadobe, uma variação brasileira do superadobe. O método construtivo é inspirado em um projeto apresentado à Nasa, a agência espacial americana, em 1984, para colonização da Lua.
A escolha do Engenho Nobre não foi apenas uma questão de filosofia; é uma afirmação de valores que se transformaram em atrativo para os turistas. Como disse o filósofo e poeta Rumi: “A terra vira ouro nas mãos do sábio”. No Engenho Nobre, a terra guarda o ouro que são os preciosos barris onde a cachaça é maturada.
A Engenho Nobre produz em média 5 mil litros de cachaça por ano. Com um volume relativamente pequeno de produção, a qualidade é priorizada. “Trabalhamos para fazer a melhor cachaça do Brasil dentro da nossa simplicidade”, afirma Murilo. A produção é conduzida pelo mestre alambiqueiro José Hilton que tem passagens no Engenho São Paulo, um dos maiores produtores em volume de cachaça de alambique do país.
A Engenho Nobre segue a escola do fermento caipira, com o uso de substratos na preparação do pé de cuba, e aplica fogo direto para o aquecimento do alambique na destilação, produzido pela queima do bagaço da cana e lenha. Falando em cana-de-açúcar, ela vem de produtores parceiros da região que atendam às boas práticas de manejo, controle acompanhado de perto por Murilo.
O processo de fermentação é iniciado com um blend de leveduras nordestinas, que abrem caminho para as leveduras selvagens da localidade. Mas o grande diferencial para uma boa fermentação, afirma o produtor, está nas dornas utilizadas, mais largas que o comum, e no sistema de ventilação da sala, sem janelas altas, mas com aberturas para a circulação de ar na parte baixa.
“Se você tem uma área específica maior, aproveita o próprio gás carbônico produzido na fermentação para preencher a camada superior da dorna, evitando o contato das leveduras com o oxigênio e potencializando a produção de álcool. Como a ventilação da sala não acontece pela parte superior, eu evito tirar essa camada de proteção da dorna”,
explica o produtor.
O controle de temperatura também é feito por aspersores de água posicionados no fundo das dornas. Um sistema desenvolvido por Murilo e adaptado à realidade do engenho. Segundo ele, mais barato que o resfriamento por serpentinas e tão eficiente quanto. “Conseguimos resfriar a fermentação de 40 para 32 graus, uma redução de oito pontos na escala com água em temperatura ambiente”.
Murilo explica cada um desses detalhes nas visitações, mas é claro, que para os mais ansiosos é possível partir logo para a degustação. Além das cachaças branca, armazenada em freijó e descansada em umburana, o Engenho Nobre oferece uma variedade de blends que combinam carvalhos, jequitibá-rosa, bálsamo, freijó e umburana.
Ou outros produtos destilados, como a Aguardente de cana Intense, uma extra premium envelhecida em carvalho por 4 anos, que entrega 50% de teor alcoólico; o Gin Nobre, um London Dry assinado por Aline Bortoletto, que traz entre os ingredientes castanhas nativas do Brasil; e o Rum Corsário, envelhecido em barris de carvalho europeu e americano.
Com lotes pequenos, a Engenho Nobre aposta em edições limitadas. O mais novo lançamento de 2024 é a Cachaça Nobre Sunset, envelhecida por 5 anos em carvalho. E Murilo já adiantou para o Mapa da Cachaça detalhes do próximo lançamento: a Cachaça Nobre Cactus trará um blend de 4 anos em carvalho e umburana.
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