Cachaça Jeceaba, produção de destaque na Estrada Real Mineira

  • Publicado 6 meses atrás

Nascida em 2003, a cachaça Jeceaba é exemplo de alambique familiar com representatividade nacional e está entre os destinos pouco conhecidos da Estrada Real Mineira

“Todo mundo tem sua cachaça”, diz o verso de Carlos Drummond de Andrade. A cidade mineira de Jeceaba até pouco tempo não podia se orgulhar tanto disso. Mas desde 2003, o pequeno município, que faz parte do percurso turístico da Estrada Real, há 124 quilômetros da capital Belo Horizonte, sedia também um pequeno alambique que vem se destacando no Estado com a maior densidade cachaceira do Brasil.

E não é nenhum exagero chamar a Cachaça Jeceaba, que carrega com orgulho o nome da cidade onde nasceu, de pequena. Com um dos menores alambiques do país e uma produção que gira em torno de 9 mil litros ao ano, o foco na Fazenda Bela Vista verdadeiramente não é o volume.

E é nesse conceito de pequena produção que a Cachaça Jeceaba se destaca.

O tamanho da empresa permite uma versatilidade para entregar produtos de valor, com foco em públicos diferentes, com agilidade e ousadia. Exemplo disso foram as edições especiais de cachaça envelhecidas em carvalho de primeiro uso e, mais recentemente, entrando no mercado ready to drink, com bebidas gaseificadas à base de cachaça saborizada com frutas.

 “Nunca quisemos ser os maiores, mas estar entre os melhores”,

Roger Sejas, sócio-fundador da cachaça Jeceaba.

Empreendedorismo e entusiasmo nas origens da cachaça Jeceaba

O advogado Roger Sejas, que foi induzido a tomar o destilado nacional porque não gostava de cerveja, sempre quis fazer uma cachaça para chamar de sua. Atualmente, ele é o produtor da cachaça Jeceaba com a família e também representa, desde 2022, uma das mais importantes entidades da cadeia produtiva da cachaça de alambique: a Associação Nacional de Produtores de Cachaça de Qualidade (ANPAQ).

A oportunidade de construir o próprio alambique surgiu na fazenda do sogro, depois de Roger perceber uma carência de um produto registrado e de qualidade que surpreendesse a experiência do mercado local, na cidade que foi um dos mais importantes entrepostos comerciais da região do Campo das Vertentes, – mas, principalmente, que passasse no crivo dele.

Grande entusiasta da cultura cachaceira, Roger conta que quando chegou na cidade de Jeceaba foi apresentado a uma cachaça de nome um tanto curioso: Boa Morte. “E, por acaso, existe morte boa?”, questiona Roger. O nome, claramente, não agradou ao visitante, mas o desconforto principal não foi esse.

Alambique da cachaça Jeceaba

“Na época, tinha até algumas cachaças nas cidades vizinhas de Congonhas e Entre Rios de Minas, mas a produção de Entre Rios estava acabando. Eu vi ali uma porta de entrada para criar um projeto que fosse sustentável para a região, mas também que sustentasse minha paixão”.

O projeto ganhou apoio da esposa, dos sogros e até dos cunhados e, desde o início, priorizou dois pontos: o conhecimento e a regularização. “Desenvolvemos o alambique já pensando em obter o registro mais à frente. Meu sogro já tinha uma plantação de cana, mas era muito exigente, e eu não queria dar nenhuma dor de cabeça para ele”, lembra Roger.

Quem ajudou no processo e atuou como mentor foi Carlos Eduardo Gravatá, cachaceiro de honra e autor do livro “Manual da Cachaça Artesanal” que serviu de inspiração para desenvolver o projeto. A partir dali, fez o primeiro curso de produção de cachaça com o engenheiro agrônomo José Carlos Ribeiro, responsável pelo Programa de Valorização da Cachaça em Minas Gerais e um dos fundadores da ANPAQ. “Procuramos aprimorar o conhecimento e fizemos cursos, inclusive com o José Carlos, para não começar a produção simplesmente pelo empirismo”, lembra Roger.

Processo produtivo da cachaça Jeceaba

A produção da Cachaça Jeceaba segue o princípio da Escola Caipira, tradicional pela fermentação espontânea, com utilização do pé-de-cuba (recentemente reconhecido pela Portaria nº 539 que estabeleceu o novo Padrão de Identidade e Qualidade (PIQ) da cachaça) e aproveitamento das leveduras que crescem no bioma local. Os substratos usados no sítio são fubá e farelo de arroz.

E para quem visita o alambique é possível ver emoldurada e pendurada na parede a primeira receita escrita à mão por Roger para o cunhado Dedé, que acompanha a produção de perto.

“Nosso alambique fica posicionado bem próximo de várias espécies de jabuticaba, banana e limão. Um ambiente que favorece no desenvolvimento daquilo que vai constituir os aromas e sabores da nossa cachaça, pelo menos na hora da fermentação”.

Roger Sejas, produtor da cachaça Jeceaba

O canavial próprio de seis hectares utiliza, desde 2021, a variedade de cana-de-açúcar conhecida como SP80-3280, que apresenta alto teor de sacarose e produtividade. A busca tem sido por canas mais adaptáveis à região.

“Somos adeptos da tradição da cachaça de alambique, mas não estáticos às melhorias que podem efetivamente agregar qualidade, produtividade e inovação sem perder o sabor”.

Roger Sejas

Quando o assunto é sabor, o uso do fogo fica de fora no manejo do canavial, mas é bem-vindo na fornalha que aquece a panela para a destilação. O pequeno alambique de cobre com coluna capelo, uma espécie de chapéu, que esfria e condensa os vapores da destilação, aproxima a jovem cachaça Jeceaba do passado histórico e cultural do destilado brasileiro.

alambique de fogo indireto e capelo na cachaça Jeceaba

Inovações produtivas: Micro-oxigenação, carvalho de primeiro uso e RDT

Ainda no campo do sabor, a cachaça Jeceaba passa por um processo de micro-oxigenação durante o armazenamento da cachaça em dornas de inox. A técnica relativamente nova, mais comum na produção de vinhos, consiste em adicionar pequenas quantidades controladas de oxigênio na cachaça recém destilada. O método busca reproduzir os benefícios da oxidação encontrada no envelhecimento em barris de madeira.

“Essa oxigenação vai criar cristais de sabores, consolidando moléculas que efetivamente vão contribuir bastante para o desenvolvimento de sabores essenciais da cachaça branca”,

explica Roger
Jeceaba 2 3

Se a essência da marca está em sua Cachaça Jeceaba Clássica, a identidade do alambique foi construída com os sabores de uma madeira bem brasileira. O Jequitibá-rosa inaugurou a linha de produtos Jeceaba há 20 anos, e até hoje a Cachaça Jeceaba Jequitibá é um clássico premiado da marca.

A madeira também está presente em praticamente toda a linha fixa de produtos, aparecendo de forma equilibrada nos blends da Cachaça Jeceaba Amburana e da Cachaça Jeceaba Premium, que apresenta uma dobradinha de 2 anos em barris de Jequitibá e 2 anos em barris de Carvalho.

cachaça Jeceaba Premium

Até as linhas especiais, que brindam novas experiências com barris de 200 litros de carvalho de primeiro uso, não perdem os florais harmoniosos do Jequitibá. A provocação sensorial aparece nas diferentes intensidades de tostagem dos carvalhos europeu e americano, como apresentado na Cachaça Jeceaba Moderna e Cachaça Jeceaba Independente, lançadas no final de 2022 em micro lotes de 320 garrafas cada.

“Percebemos que existe público para essas cachaças sofisticadas. Estamos investindo em outros barris desta natureza, seja de carvalho americano ou francês, para soltar novos produtos diferenciados”,

contou Roger
cachaça jeceaba moderna e cachaça jeceaba independente
Investimento em barris de carvalho virgem para fazer os blends das cachaças Jeceaba Moderna e Jeceaba Independente

Atentos à outra ponta do mercado, a Jeceaba também inovou ao olhar para dentro de casa e perceber como mudanças na concepção do produto podem perpetuar a história da marca e a história da própria cachaça. “Sempre trabalhamos com a cachaça em feiras e eventos, assim como com drinks. Acreditamos que efetivamente os drinks são uma grande forma de se fazer o consumo da cachaça, mas a moçada gosta de algo mais prático”.

read to drink da Jeceaba latinha

De olho nos hábitos de consumo dos filhos, Roger e a família decidiram enlatar a Jeceaba, se abrindo ao universo dos coquetéis prontos para o consumo ou RTD (do inglês, ready to drink). Rápido de gelar, fácil de carregar e com a qualidade da cachaça Jeceaba. No embalo dos 20 anos da marca, surgiu a Twenty’s ou como a marca gosta de apresentar: uma nova forma de beber cachaça.

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