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A Terra sem Mal é um conceito profundo e sagrado para os povos indígenas, onde a natureza, os espíritos e a humanidade coexistem em harmonia. De acordo com o xamã Yanomami Kopenawa, quando a terra-floresta for destruída, os rios secarem, e as árvores morrerem, os espíritos Xapiripë, que habitam as serras e brincam nas florestas, irão fugir. Seus pais, os xamãs, não conseguirão mais chamá-los para proteger a humanidade. Nesse cenário, as epidemias e seres malignos trarão doenças, e restará apenas a Terra sem Mal, um lugar de felicidade e sem sofrimentos, para onde irão os homens bons. Este é um lugar que se alcança caminhando, sem precisar morrer.
Os Guaranis, em sua sabedoria ancestral, anseiam por esse outro mundo, um lugar sem maldade, fome ou doenças. Para eles, a beleza sempre esteve associada ao que é bom, enraizado profundamente em seu espírito. Nas belas montanhas da Mantiqueira, eles descobriram sua própria Terra sem Mal, conhecida como Yvy Marei Guarani. Ali, encontraram sabores e aromas tão singulares que poderiam ser comparados à ambrosia dos deuses no Olimpo. A água pura, o solo fértil, os ventos suaves, o clima único e as pessoas apaixonadas compõem o terroir da Mantiqueira, onde uma cachaça especial é destilada.
Jacy, a Lua, mãe do Sol Guarani, carrega em seu nome a herança de sua família. No início do século 20, a família de Jacy possuía uma fazenda no sul de Minas Gerais, cercada por palmeiras e de topografia agradável, chamada Guariroba. Naquela fazenda, produzia-se uma cachaça de qualidade que levava o nome da propriedade. Durante sua infância, Jacy assistia à cana sendo esmagada, segura pelas mãos amorosas de seu avô. Ela observava as abelhas buscando o mel que sobrava no bagaço da cana moída, envolta pelo cheiro doce e pelo olhar afetuoso de seu avô.
Essas lembranças nunca se apagaram. Na maturidade, Jacy retornou ao sul de Minas para produzir, na Terra sem Mal, uma cachaça de qualidade, como a que sua família fazia. O olhar de seu avô permanece vivo em sua memória, assim como o cheiro da garapa e o zunir das abelhas. Sobre um lençol de água mineral deliciosa, a cana é cultivada em terrenos íngremes, a mil metros de altura. O caldo é fermentado com leveduras especiais e destilado em pequenas quantidades em um alambique de cobre. A cachaça é armazenada em tonéis de madeiras nobres, em uma cave sob o morro, e o sabor alcançado é um tributo ao orgulho de Baco, o deus do êxtase e do entusiasmo.
