No Mapa da Cachaça, buscamos identificar e valorizar cachaças especiais, aquelas que se destacam das concorrentes por sua singularidade. Nosso objetivo é contribuir para o fortalecimento do mercado da cachaça, ajudando produtores a se diferenciarem por meio de práticas que realcem a identidade de seus produtos.
A cachaça é um destilado complexo e fascinante. Com mais de 10 mil marcas registradas, esse universo envolve uma rica diversidade de histórias, receitas e uma enorme complexidade sensorial. Para explorar essa riqueza, realizamos análises sensoriais, estudando cores, aromas e sabores das cachaças brancas e envelhecidas. A partir dessas experiências, criamos sugestões para ajudar produtores a se destacarem no mercado.
Se a cachaça for bem feita, dizer que ela é boa ou ruim depende do gosto pessoal. Entretanto, ao falar de cachaças especiais, referimo-nos àquelas que possuem identidade própria e se diferenciam por fatores como terroir, técnicas de produção e características sensoriais únicas. A seguir, listamos algumas práticas que consideramos essenciais:
A cachaça faz parte da história do Brasil e, como destilado nacional, merece reconhecimento. Produtores devem valorizar essa herança ao divulgar sua trajetória e conexão com suas regiões de origem. Desde rótulos informativos até campanhas de marketing e presença ativa nas redes sociais, compartilhar histórias enriquece a percepção do consumidor.

No Mapa da Cachaça, acreditamos que o terroir – a combinação de fatores naturais, políticos e culturais de uma região – influencia diretamente o sabor da bebida. Qualidade do solo, clima e técnicas de produção locais moldam o perfil sensorial da cachaça. Mapear esses terroirs e comunicar suas características ao mercado agrega valor ao produto e nos ajuda a identificar cachaças especiais. Outras categorias de destilados já têm aderido ao conceito.
Podemos considerar que as regiões identificadas como Denominações de Origem trazem essa identidade do terroir para suas cachaças. Um bom exemplo é Paraty. Em 2024, o INPI concedeu à cachaça de Paraty o título de Denominação de Origem (DO), reconhecendo suas características únicas ligadas ao terroir local. Com clima peculiar e tradição secular, a região produz um destilado autêntico, fruto da dedicação dos produtores e métodos tradicionais. Essa certificação garante qualidade e autenticidade, destacando a importância cultural e histórica de Paraty na produção de cachaça no Brasil.

Assim como ocorre no mundo dos vinhos, reconhecer safras na cachaça faz sentido, especialmente para produtores artesanais. A qualidade do caldo de cana varia de acordo com fatores climáticos, o que pode gerar safras únicas. Informar o consumidor sobre a safra permite destacar anos excepcionais e reforçar a autenticidade do produto.
A variedade de cana-de-açúcar utilizada também influencia a cachaça. Algumas destilarias já destacam essa informação em seus rótulos, ajudando a construir uma narrativa mais completa sobre a bebida. Por exemplo, a Encantos da Marquesa e a Princesa Isabel já produzem cachaças com canas específicas, como a caiana, conhecida por suas qualidades sensoriais marcantes.

Acreditamos que uma boa cachaça branca é a base de um portfólio sólido. Pesquisas acadêmicas já identificaram mais de 30 atributos sensoriais nas cachaças armazenadas em inox. Investir na produção de uma cachaça branca de qualidade mostra o compromisso do produtor com a excelência desde a base.
O processo de fermentação é crucial na produção de cachaça. As leveduras convertem o açúcar em álcool, criando compostos que definem aromas e sabores. Alguns produtores utilizam fermentação espontânea, valorizando a microbiota local, enquanto outros optam por leveduras selecionadas para garantir maior controle e padronização. Ambas as abordagens podem resultar em produtos excepcionais quando bem executadas.

Criar um portfólio diversificado é essencial para destacar uma cachaça no mercado. A inovação pode vir do uso de diferentes madeiras brasileiras e importadas, como carvalhos novos ou de primeiro uso, tostados para realçar características específicas. No entanto, o principal diferencial está em desenvolver uma assinatura sensorial única. Quando o sabor de uma cachaça se torna reconhecível e associado ao mestre de adega ou à marca, mesmo em uma degustação às cegas, o produtor alcança um atributo altamente valorizado no setor.
Neste momento, sabemos que ele possui uma cachaça especial, pois, além de saborosa, ela carrega uma identidade própria, refletindo as preferências do produtor ou até mesmo uma tradição regional. Um exemplo emblemático é a chamada “Escola Anísio Santiago”. Utilizando técnicas específicas de produção e envelhecendo sua cachaça em barris de bálsamo, Anísio Santiago criou um estilo singular que se transformou em referência. Sua receita não só moldou a identidade das cachaças de Salinas, em Minas Gerais, como também influenciou diversos produtores em outras regiões do Brasil.

Acreditamos que essas práticas ajudam a elevar a cachaça ao seu merecido patamar no mercado global. Investir na identidade da marca, comunicar sua história e explorar a diversidade sensorial são caminhos para transformar a percepção do público e valorizar essa bebida única. Seguimos comprometidos com essa missão, aprendendo e compartilhando conhecimentos para fortalecer ainda mais a cultura da cachaça.
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