Nas últimas décadas, o município norte-mineiro de Salinas tem sido reconhecido como a capital nacional da cachaça artesanal, onde são produzidas as mais cobiças marcas de cachaças do país. Turistas de todo o Brasil e até mesmo do exterior visitam Salinas para conhecer e degustar a bebida no Festival Mundial da Cachaça, cujo evento é realizado todos os anos desde 2002 pela Associação de Produtores Artesanais de Cachaça de Salinas (Apacs), que conta com o apoio logístico e financeiro da prefeitura do município.
De acordo com o Anuário da Cachaça 2023, Salinas é o município brasileiro com maior número de cachaçarias registradas, totalizando 24 estabelecimentos, o que corresponde a 4,8% das cachaçarias de Minas Gerais. A produção anual declarada em Minas Gerais foi de 177,5 milhões de litros, representando 78,7% da produção nacional, destacando-se o município de Salinas como um dos principais centros produtores.
A marca de cachaça artesanal mais tradicional do Brasil atualmente é produzida em Salinas. É a famosa cachaça Havana–Anísio Santiago, reconhecida Patrimônio Cultural Imaterial de Salinas por meio de Decreto Municipal nº. 3.728/2006, fato inédito no Brasil. Também é de Salinas o maior produtor do estado em volume de produção comercializada sob as marcas Boazinha, Saliboa e Seleta. Outras marcas tradicionais como BeijaFlor, Canarinha, Cubana, Erva Doce, Indaiazinha, Lua Cheia, Majestade, Nova Aliança, Piragibana, Sabor de Minas, Salineira, Terra de Ouro, dentre outras, fazem sucesso junto ao consumidor que a cada dia vem apreciando e degustando a mais genuína bebida brasileira: a cachaça.



Em 1990, a revista PLAYBOY (edição de maio) lançou seu primeiro ranking de cachaça. A cachaça Havana, do produtor Anísio Santiago (1912-2002) ficou em primeiro lugar.
Em 2007, a revista PLAYBOY (edição de abril), elegeu sete marcas de Salinas entre as vinte melhores do país: Anísio Santiago-Havana (2º. Lugar), Canarinha (3º.Lugar), Boazinha (6º. Lugar), Piragibana (10º. Lugar), Indaiazinha (12º. Lugar), Lua Cheia (16º. Lugar) e Seleta (18º. Lugar), tendo representatividade de 35% do rol das marcas eleitas.
Em 2009, a revista PLAYBOY elegeu duas marcas entre as melhores do pais: Anísio Santiago-Havana (1º. lugar) e Canarinha (6º. lugar).
Em 2010, a conceituada revista VEJA (edição de janeiro 2010) lançou seu primeiro ranking de cachaça, sendo que a cachaça Anísio Santiago-Havana ficou em primeiro lugar na categoria cachaça envelhecida. A marca Canarinha ficou em quatro lugar.
Em 2011, no último ranking da revista PLAYBOY (edição de julho), duas marcas de Salinas foram eleitas entre as vinte melhores do país: Anísio Santiago-Havana (1º. lugar) e Canarinha (6º. lugar).
Na literatura da cachaça, Salinas é destaque nos mais diversos livros lançados nos últimos anos. Todos os autores destacam a importância da cachaça produzida no município pela sua qualidade, tradição e variedade de marcas.
Outra evidência da força da cachaça de Salinas está na arrecadação de ICMS, imposto sobre circulação de mercadorias e serviços, de competência estadual. O ICMS é um excelente indicador para mensuração da atividade econômica pois permite fazer correlação com outros setores da economia. Permite, ainda, fazer análise sobre aspectos da formalidade e informalidade do setor.
Cerca de um terço da arrecadação de ICMS é proveniente da atividade produtiva de cachaça nos alambiques do município. Os dados da arrecadação de ICMS apontam Salinas como único município mineiro que possui cadeia produtiva consolidada com expressiva participação na economia local.
A microrregião de Salinas, composta por dezessete municípios, possui 45 produtores de cachaça formalizados (inscritos na Receita Federal, Receita Estadual e Ministério da Agricultura), sendo que 27 produtores (60%) estão localizados no município de Salinas. Em 2012, os produtores de Salinas faturaram 26,8 milhões de reais, 9,24% a mais em em relação a 2011, que foi de 24,4 milhões de reais.
A participação dos produtores de Salinas foi de 72,43% em relação ao total faturado pelos produtores da região em 2012. No ano anterior a participação foi de 75,48%. Demonstra que Salinas vem buscando a formalidade ao longo dos últimos anos com expressiva participação na economia do município.
A importância econômica da cachaça para Salinas é evidente. Em 2023, Minas Gerais registrou 2.144 produtos de cachaça, representando 35,7% das cachaças registradas no Brasil. A arrecadação de ICMS proveniente das atividades ligadas à produção de cachaça é significativa, destacando a relevância do setor na economia local.
O reconhecimento da cachaça de Salinas também ocorre no cenário internacional. Segundo o Anuário, a exportação brasileira de cachaça atingiu 8,6 milhões de litros em 2023, consolidando o Brasil como exportador para 76 países. O sucesso e a tradição da produção local foram ainda reforçados pela criação do Museu da Cachaça de Salinas, inaugurado em 2012, celebrando a cultura e a história dessa bebida tão emblemática.
Poucas cidades brasileiras possuem símbolo que reflete a economia e cultura local. Salinas possui a cachaça artesanal como símbolo de sua vocação econômica e cultural. A genuína bebida brasileira ali produzida está cada vez mais cobiçada pela sua qualidade, tradição e variedade de marcas. Maria das Vitórias Cavalcanti, presidente do Programa Brasileiro de Desenvolvimento da Cachaça (PBDC), em depoimento para o livro “O Mito da Cachaça Havana-Anísio Santiago” (Editora Cuatiara: Belo Horizonte, 2ª.edição, 2007, 292 páginas) afirma que:
É indiscutível a importância da região de Salinas para o desenvolvimento do mercado da cachaça no Brasil e no exterior. A busca dos produtores da região em desenvolver marcas e produto de qualidade diferenciada colocou Minas Gerais na liderança da produção de cachaça artesanal no Brasil.
Maria das Vitórias Cavalcanti
O processo de expansão e diversificação da economia brasileira ao longo das últimas décadas vem forjando e incrementando atividades econômicas com produtos típicos da cultura do Brasil com forte impacto nas economias locais. Neste aspecto, através de diversos fatores como clima, solo, conhecimento e tradição, Salinas vem promovendo o seu desenvolvimento sócioeconômico, bem como ocupando espaço no mercado interno e externo através de bebida que expressa parte da cultura e identidade brasileira: a cachaça.
O Museu da Cachaça de Salinas, inaugurado em dezembro de 2012, com recurso do tesouro estadual é o reconhecimento oficial do governo mineiro, fato inédito no Brasil, da importância da cachaça para Salinas e Minas Gerais. Foi graças ao trabalho épico dos produtores que o município de Salinas virou sinônimo de cachaça no Brasil.


Assim, Salinas não é apenas um polo produtivo, mas também um símbolo cultural da cachaça artesanal brasileira, reforçando sua posição de destaque no cenário nacional e internacional.
Um brinde à cachaça de Salinas!
ALCÂNTARA, Araquém. BEATO, Manoel. Cachaça.São Paulo: Transbrasil, 2011.
ALENCAR, Girleno. Cachaça Havana provoca “guerra” no norte. Hoje em Dia, Caderno de Minas, Belo Horizonte, 1º março, p. 9.
BEMVINDO À terra da Havana. Revista Globo Rural, São Paulo, nº 3, 1988.
CAVALCANTE, Messias S. A verdadeira História da Cachaça. São Paulo: Editora Sá, 2011.
FEIJÓ, Ataneia. MACIEL, Engels. Cachaça Artesanal: Do Alambique à Mesa. Rio de Janeiro: Senasc, 2002.
FIGUEIREDO, Renato. De Marvada a Bendita. São Paulo: Matriz, 2011.
PAIVA, Fernando. Viagem ao país da cachaça. Revista Mitsubishi nº 13, São Paulo, março 2004.
Revista PLAYBOY (edições de maio 1990, abril 2007, agosto 2009 e julho 2011).
RIBEIRO, Ronaldo. A Safra Seguinte. Revista National Geographic Brasil, outubro 2003.
SANTIAGO, Roberto Carlos Morais Santiago. O Mito da Cachaça Havana-Anísio Santiago. Belo Horizonte: Cuatiara, 2006.
VENTURA, Sandra. GIRALDEZ, Ricardo. Cachaça: Cultura e Prazer Brasileiro. São Paulo: Dalmara, 2006.
WEIMANN, Erwin. Cachaça: A Bebida Brasileira. São Paulo: Terceiro Nome, 2006.
Sem resultados