Branding e embalagem: o novo caminho para transformar a cachaça em um destilado premium

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O mercado global de destilados premium cresce 4,7% ao ano e a cachaça começa a seguir essa rota. Entenda como o branding e o design de embalagem estão ajudando a reposicionar a bebida brasileira no cenário internacional.

O que é branding?

Nas últimas décadas, várias marcas de cachaça têm investido em ações pontuais para ganhar visibilidade internacional: product placement, repaginação do rótulo, mudança de linguagem visual e verbal. O objetivo é claro: romper com a imagem de bebida barata usada apenas em coquetéis e conquistar o status de destilado nobre — ao lado de uísque e gin. Mas sabemos que ações de marketing, apesar de úteis, dificilmente mudam percepções profundas: é aí que entra o branding.

Branding é o trabalho estratégico de conceber, gerir e alinhar uma marca — definindo sua essência, personalidade, valores, linguagem e posicionamento. No universo da cachaça, isso é ainda mais desafiador, porque envolve ingressar em territórios simbólicos já ocupados por bebidas premium consolidadas.

O exemplo da Havaianas

Para ilustrar: as Havaianas, sandálias de borracha originalmente associadas a preços baixos e consumo popular, reinventaram-se. Hoje são um ícone global, com pares que vão de R$ 15 a R$ 1.500. Segundo a tese de Gabriela Botelho (PUC), a gestão estratégica da marca conseguiu, em menos de duas décadas, transformá-la em uma marca brasileira valorizada no mundo. O segredo? Visão, consistência e paciência.

Do universo da cachaça, os herdeiros Ignacio e Tomás Osborne, em entrevista ao Brasil Econômico, são claros: para inserir uma bebida destilada brasileira em mercados sofisticados, “[é preciso] fazer um intenso trabalho de branding … são pelo menos cinco anos de trabalho”. Para eles, branding é condição de sobrevivência em mercados em que a cachaça — nos imaginários estrangeiros — é desconhecida ou subestimada. A empresa comprou a Natique das cachaças Santo Grau, Saliníssima e Espírito de Minas.

Algumas iniciativas já nascem com essa ambição. A cachaça Zeca, idealizada pela agência global FutureBrand, foi pensada desde a origem para dialogar com público estrangeiro — na proposta, no visual, no posicionamento. Quando uma agência de branding lança sua própria cachaça, fica claro: marca, diferenciação e estratégia importam tanto quanto o produto.

O projeto Mapa da Cachaça é outro exemplo: vai além da comunicação ou vendas. Ele mobiliza estudos, estratégias e ferramentas de branding para reposicionar a cachaça artesanal — não como bebida regional ou exótica, mas como expressão cultural brasileira com apelo internacional.

Por que branding e embalagem são urgentes — dados que convencem

  • O mercado global de destilados premium deve crescer cerca de 4,77 % ao ano entre 2024 e 2035. Market Research Future
  • O mercado global de embalagens para bebidas alcoólicas, hoje estimado em USD 69,2 bilhões (2024), projeta taxa de crescimento anual de ~4,7 %. Global Market Insights Inc.
  • Em estudo da TricorBraun, 79 % dos consumidores registram que embalagem de vidro está ligada à ideia de produto premium. TricorBraun
  • Ainda nesse estudo, 3 em 4 consumidores afirmaram estar mais dispostos a comprar destilados com embalagem visualmente atraente. TricorBraun
  • Quase metade (46 %) dos entrevistados associa formatos diferenciados (texturas, relevos, formas personalizadas) a produtos premium. TricorBraun
  • No quesito sustentabilidade, o relatório Global Buying Green mostrou que 86 % dos consumidores com menos de 45 anos aceitariam pagar mais por embalagens sustentáveis, e 57 % evitam produtos cuja embalagem julgam prejudicial. IWSC Competição de Vinhos e Destilados
  • No Brasil, marcas de cachaça vêm adotando design diferenciado e rótulos sofisticados como parte da estratégia de “premiumização”. Sebrae
  • Produtores nacionais já falam em tornar a cachaça um destilado competitivo com uísque e rum nas prateleiras nobres. Envase Brasil
  • O estudo “Identidade de Marca de Cachaças Artesanais” (UEM / RIMAR) identificou que muitas produtoras reconhecem a importância da marca, mas ainda têm lacunas no uso estratégico das ferramentas de branding. Periódicos UEM

Esses dados deixam claro: o mercado está caminhando para a premiumização, e embalagem + branding são instrumentos centrais para capturar valor.

Pergunta final

Você acredita que a gestão estratégica de marca (branding) e o investimento em embalagem alinhada ao posicionamento são decisivos para elevar a cachaça ao status de bebida refinada e reconhecida internacionalmente? Compartilhe sua opinião nos comentários.

Renato é publicitário e mestre em Comunicação pela USP. Escritor, lançou “De Marvada à Bendita” em 2011. Colaborou com o Mapa da Cachaça e coordenou um projeto de branding para a cachaça na Oz Estratégia + Design. Atua há mais de 15 anos com estratégia de marca.