Felipe Jannuzzi

Os Alambiques Gaúchos - Cachaça Bento Albino

  • Publicado 12 anos atrás

Com mais de um ano de projeto, nós do Mapa da Cachaça temos a certeza de que falar de cachaça é um pretexto para falar de Brasil. Nesses últimos meses viajando por alambiques, estamos conhecendo mais sobre nossa gastronomia, história, geografia e principalmente sobre a nossa diversidade cultural. Na semana passada fui conhecer cinco alambiques do Rio Grande do Sul e quero contar por aqui um pouco da minha experiência, começando pela cachaça Bento Albino de Maquiné.

A história dessa viagem começou em 2010 quando conheci o Fernando Andrade, executivo da APRODECANA, associação representante dos produtores das cachaças gaúchas. Fernando, nessa ocasião, me disse o seguinte:

Os mineiros têm a tradição em produzir cachaça, os paulistas têm o volume, nós, gaúchos, queremos ser reconhecidos pela qualidade.

Realmente, assim como em outros estados, o Rio Grande do Sul tem produzido excelentes cachaças. Mas na minha visita, percebi que muito mais do que uma produção exemplar, os gaúchos estão com um projeto para o desenvolvimento da cachaça no estado. O segredo deles é a união entre os produtores.

Eu desembarquei em Porto Alegre com o Leandro Batista, o Sommelier de Cachaça, Mauricio Maia, o Cachacier e Illan Oliveira, da distribuidora Solution. No salão de desembarque, nossos anfitriões estavam nos aguardando. Evandro, da cachaça Weber Haus, Ivandro, da cachaça Velho Alambique, Moacir, da cachaça Casa Bucco e Bean, da Flor do Vale. Só faltaram os produtores Luzia e Armando, da cachaça Bento Albino. Eles estavam nos aguardando em Maquiné, nosso próximo destino.

Cachaça Bento Albino – Maquiné – RS

O Casal Armando e Luzia, produtores da Cachaça Bento Albino

O Casal Armando e Luzia, produtores da Cachaça Bento Albino

A cachaça[cachaca id=”3852″]Bento Albino[/cachaca] é produzida pelo casal Armando e Luzia no “Alambique do Espraiado”. Ele, médico radiologista e ela, professora de física aposentada nascida na região do Chuí, fronteira com o Uruguai. A motivação de se produzir cachaça surgiu com o desejo de homenagear o pai de Armando, o tropeiro Bento Albino que ficou famoso no seu tempo por transportar as melhores cachaças da região. A cidade da Bento Albino é reconhecida pela produção de aguardente desde sua colonização em 1840, quando netos de açorianos, vindos de Santa Catarina, se estabeleceram nas margens do rio Maquiné para plantar cana-de-açúcar.

No Alambique do Espraiado tem plantação de parreiras e uma horta para o consumo da família. A cana é plantada nos morros próximos, onde a chuva favorece o crescimento e o bom nível de açúcar da planta. O manejo do canavial é todo manual e sem queimas. Muitos alambiques do Rio Grande do Sul estão usando leveduras selecionadas, uma prática que aprenderam com o vinho, mas na Bento Albino a fermentação é feita com leveduras selvagens. Depois de fermentada, a cachaça é destilada apenas uma vez, quando então são separada as partes nobres para o consumo. Por ser médico, Armando sabe dos riscos de uma produção mal feita. Por isso, seu compromisso é produzir uma cachaça sem impurezas, com controle de qualidade do corte até o engarrafamento, e sempre promovendo o consumo moderado.

o Mapa da Cachaça no Alambique da Espraiada - Cachaça Bento Albino

Todo o processo de produção da cachaça Bento Albino é controlado pela Márcia, mestre alambiqueira há mais de dois anos e uma pessoa muito agradável. Ela nos acompanhou durante a viagem porque queria aprender com seus colegas alambiqueiros produtores das outras cachaças. Essa troca de experiências e tecnologias é algo novo no mundo da cachaça.

Marcia, a mestre alambiqueira da Bento Albino e Luzia, a dona

Além de beber, foi no alambique da cachaça Bento Albino que eu descobri o churrasco à moda uruguaia. Luzia trouxe de Vitória do Palmar, a 22 km do Chuí, um dos maiores especialistas brasileiros em churrasco, e certamente a maior autoridade em churrasco fogo de chão, o mestre Carlos Munhoz. O preparo do churrasco foi uma verdadeira poesia e seu caldinho de feijão foi um dos melhores que já experimentei. A arte não ficou apenas no preparo. No final do jantar, Carlos Munhoz recitou um poema de sua autoria falando sobre a vida nos pampas. O poema é o “Rancho da Amizade”

 

cachaca bento albino - churrasco fogo de chao

Naquela noite quente do litoral gaúcho, comendo carne com o sabor aguçado pela cachaça envelhecida no carvalho, o papo rolava entre os especialistas e produtores. Passei a madrugada conversando com meus novos amigos, ouvindo Bean e Evandro contando suas aventuras nas feiras de cachaça no exterior e a história de quando Maurício Maia trouxe para o Brasil, na sua bagagem de mão, uma cabeça de porco embalada a vácuo, presente de um amigo e chef italiano (mais tarde nessa viagem, eu iria experimentar minha primeira bochecha de porco…). Nossa primeira noite no Rio Grande do Sul terminou com a deliciosa “Ambrosia da Luzia”, que ela não preparou, mas como uma boa professora, ensinou a fazer direitinho.

Visitando os Alambiques Gauchos - Bento Albino

Era mais do que eu imagina para minha primeira visita a um alambique gaúcho. No dia seguinte, fomos para o Alambique da Weber Haus em Ivoti, mas essa história eu conto no meu próximo post.

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