A Sapucaia Real foi uma das primeiras cachaças extra-premium a chamar minha atenção. Há duas décadas, o mercado ainda era escasso em opções de cachaças envelhecidas por longos períodos em barris de carvalho. Esta versão específica repousa desde 1990 em barris de 300 litros de carvalho europeu, resultando em um líquido de identidade única. O envelhecimento prolongado confere à Sapucaia Real um perfil sensorial sofisticado, que equilibra complexidade e suavidade na boca.
A história da Sapucaia começou em Pindamonhangaba, no coração do Vale do Paraíba, pelas mãos do visionário Dr. Cícero da Silva Prado. Inspirado pelo majestoso pé de sapucaia presente em sua fazenda, ele iniciou a produção da cachaça em 1933, batizando-a com o nome da árvore. Após sua morte, em 1969, a marca enfrentou desafios, mas encontrou nova força sob a liderança de Alexandre Bertin, que assumiu a revitalização em 2008, preservando o legado de Dr. Cícero e modernizando a produção.




Os barris usados na Sapucaia Real possuem uma história tão rica quanto a própria cachaça. Transportados da antiga unidade de Pindamonhangaba para uma propriedade em Pirassununga – onde a família de Bertin destila cachaça há mais de um século –, os barris reforçam a conexão entre tradição e inovação que caracteriza a marca. Essa transição, iniciada em 2015, marcou uma nova era para a Sapucaia, que mantém suas raízes históricas enquanto consolida sua posição no crescente mercado de destilados premium produzidos no Brasil.
Em 2024, a Sapucaia deu um passo importante ao inaugurar uma microdestilaria em Pinheiros, São Paulo, na Rua Mateus Grou. O espaço foi concebido como um ponto de encontro e um trampolim para a expansão da marca no mercado paulistano.
“A decisão de estabelecer uma fábrica em Pinheiros foi natural, dada a nossa forte conexão com São Paulo e seu dinâmico cenário gastronômico e cultural”,
explica Alexandre Bertin

Alexandre Bertin desempenha um papel que observamos desde criação do Mapa da Cachaça , alinhando-se a valores essenciais para a valorização da bebida brasileira. Ele promoveu o fortalecimento da sua marca, a diversificação da produção com novos destilados, como gin e rum (um movimento mais forte no mercado nos últimos 5 anos), e o desenvolvimento do turismo regional. Também incentivou a união do setor por meio de associações, investiu na presença da cachaça na coquetelaria e contribuiu para a expansão do mercado internacional, ampliando os horizontes para o segmento de forma inovadora.


Comprar: R$ 515,00 – direto com o produtor
A versão que analisei da Sapucaia Real é um lote que tem identificado 18 anos no rótulo, quando a produção ainda era em Pindamonhangaba.
No visual, sua coloração âmbar escura e brilhante impressiona já na garrafa. Ao girar a taça, as lágrimas moderadas revelam a maturação prolongada em madeira. Por estar muito tempo na minha adega, percebo alguns sedimentos de madeira se formando no fundo da garrafa.
No aroma, baunilha e caramelo aparecem imediatamente, seguidas por um rico buquê de frutas cristalizadas e ameixas secas. Esses aromas evoluem com nuances de canela, castanhas, couro e tabaco, que conferem profundidade e sofisticação.
Ao paladar, a Sapucaia Real apresenta uma textura aveludada e um corpo médio. O sabor doce e amadeirado destacam-se, com camadas o caramelo e a baunilha em harmonia com noz-moscada. Um leve toque terroso, que remete à musgo, nos transporta para as adegas onde essas barricas antigas de carvalho europeu repousaram por quase duas décadas.
O final é longo e complexo, e deixa na memória frutas secas, baunilha e um delicado toque apimentado. Essa persistência convida a uma nova prova e celebra a riqueza dessa cachaça paulista.
A Sapucaia reafirma seu lugar como uma das principais cachaças de São Paulo, trazendo tradição de uma marca de meados do século passado, e um refinamento que eleva os padrões da cachaça como bebida de classe mundial.

Além de degustá-la pura, recomendo explorar o potencial dessa Sapucaia na coquetelaria. A seguir, compartilho receitas elaboradas por Laércio Zulu e Jean Ponce, que destacam o sabor único dessa cachaça produzida em Pirassununga.


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Em 2010, Felipe Jannuzzi fundou o Mapa da Cachaça, premiado projeto cultural com reconhecimento internacional e a principal referência sobre cachaça no mundo. Felipe é um dos sócios fundadores da Espíritos Brasileiros, empresa pioneira no mercado de produção de gin no Brasil, responsável pelo premiado Virga, primeiro gin artesanal brasileiro e o único no mundo que leva doses de cachaça na receita. Desde 2021, é um dos sócios da BR-ME, empresa especializada em produtos brasileiros, como vinhos, cafés, azeites, queijos e chocolates.
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