O episódio 25 do Aftertime marcou uma conversa descontraída, divertida e ao mesmo tempo densa em conteúdo. Conduzido por Maverick e Waka, o podcast recebeu Felipe Jannuzzi, jornalista, pesquisador e autor do livro Guia Mapa da Cachaça — obra bilíngue (português e inglês) publicada pelo Senac que reúne 15 anos de pesquisa sobre o universo da cachaça artesanal.
Logo na abertura, os apresentadores destacaram o papel de Felipe como uma das figuras mais influentes na valorização da cachaça. Com mais de 500 artigos, 200 receitas e uma comunidade ativa de produtores e apaixonados, o site Mapa da Cachaça consolidou-se como o maior portal dedicado à bebida no país.
Felipe contou que sua formação é em comunicação social e que sonhava em ser roteirista de cinema — algo que, segundo ele, se reflete hoje na forma de contar histórias sobre a cachaça, seus produtores e regiões.
“O Mapa da Cachaça é o meu roteiro sobre o Brasil. Eu acabei transformando a minha frustração de roteirista em algo ainda mais rico: contar as histórias reais das pessoas que produzem cachaça”, comentou.
Ele relembrou o início do projeto em São Carlos (SP), quando percebeu que sabia muito pouco sobre a bebida mais brasileira de todas, apesar de viver cercado por produtores. A curiosidade virou pesquisa, e a pesquisa virou um mapa — literalmente: um levantamento dos principais alambiques do país, suas histórias e suas escolas sensoriais.
Durante a conversa, Felipe apresentou o livro Guia Mapa da Cachaça, um projeto de longa gestação:
“Foi o meu parto mais longo. Um ano de escrita, outro de edição e quinze de pesquisa e estrada.”
A obra traz uma parte teórica — sobre história, escolas regionais e metodologia de avaliação sensorial — e outra prática, com a análise de 200 cachaças avaliadas às cegas. O livro foi produzido com uma equipe de degustadores treinados durante três meses, com sessões diárias às 7h da manhã.
O resultado é um verdadeiro retrato da diversidade brasileira, apresentando as diferentes famílias aromáticas, variedades de cana, madeiras de envelhecimento e identidades regionais — como a célebre “escola de Salinas”.

Entre risadas e histórias de viagem, o papo mergulhou em temas sérios: a valorização das receitas regionais, o papel do bartender na educação do consumidor e a necessidade de profissionalizar o setor.
Felipe defendeu que o futuro da cachaça depende de investimento em pessoas e formação de avaliadores e comunicadores especializados.
“Hoje já temos bons produtos. O próximo passo é investir nas pessoas — bartenders, sommeliers e comunicadores — que vão levar essa experiência até o consumidor.”
Felipe Jannuzzi
Ele também destacou o potencial de inovação do setor, seja pela diversidade de madeiras brasileiras (como bálsamo, amburana e jequitibá) ou pelas novas combinações criativas, como cachaças envelhecidas em barris que antes guardaram cerveja.
Um dos pontos altos do episódio foi a discussão sobre a coquetelaria nacional, com destaque para clássicos como Rabo de Galo, Macunaíma, Jorge Amado e Caipirinha.
Felipe defendeu a criação de uma identidade própria para a coquetelaria brasileira, inspirada em bares que valorizam a produção local, como o Lamparina, em Belo Horizonte.
“Um bar em Curitiba trabalhar com cachaças do Paraná, ou um em Minas usar apenas cachaças mineiras, é o caminho para fortalecer a coquetelaria local.”
No bloco final, Felipe abordou o tema da exportação e as “três ondas” da internacionalização da cachaça:
“A terceira onda é a mais bonita — é quando o próprio produtor conta sua história para o mundo.”
O episódio é um retrato do que o Aftertime tem de melhor: humor, autenticidade e paixão pela bebida.
Felipe encerra com um convite:
“Vamos valorizar quem faz direito, visitar alambiques, incentivar o turismo da cachaça e contar essas histórias que são o próprio Brasil.”
Felipe Jannuzzi


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O Mapa da Cachaça é um projeto cultural e educativo criado com o objetivo de divulgar e valorizar a cachaça, que é um patrimônio cultural e um dos símbolos da identidade brasileira.