A marca nasceu em 2002, idealizada por Waldir Tenório Ferreira, engenheiro civil apaixonado por desafios e pai de Henrique Tenório. Após concluir uma pós-graduação em tecnologia da cachaça na Universidade Federal de Lavras (UFLA), Waldir decidiu fundar o alambique na fazenda da família.
Na hora de escolher o nome, a inspiração veio de uma conversa de bar entre amigos. Um deles sugeriu homenagear um dos símbolos mais marcantes de Alagoas: o coqueiro torto da Praia da Ponta Verde, em Maceió, conhecido como Gogó da Ema.
“Foi numa conversa informal que surgiu a ideia. A gente gostou porque é um nome que representa a cultura e a história do estado. O coqueiro era ponto de referência na melhor praia de Maceió e até hoje é lembrado como um símbolo das nossas belezas naturais.”
Henrique Tenório
Com o tempo, a marca se tornou um verdadeiro legado familiar. “Representa 20 anos da nossa história”, afirma Henrique. “Cada irmão participou de alguma forma — uns mais diretamente, outros em eventos ou decisões. Hoje a empresa é minha, mas a Gogó da Ema é algo que simboliza a nossa família inteira.”
Antes da cachaça, a família Tenório já havia se aventurado em diferentes negócios — de um laticínio no interior a lojas de surfwear em Maceió. Mas Waldir buscava algo que unisse o campo à durabilidade de um produto sem prazo de validade.
“Meu pai dizia: com queijo a gente perde se não vender logo. Já a cachaça, se não vender de imediato, fica guardadinha, envelhecendo. É um produto que melhora com o tempo.”
Henrique Tenório
A ideia se consolidou com a chegada de Henrique, formado em Turismo, que cuidou da parte administrativa e dos registros legais da destilaria. Ele assumiu a produção em 2008, e desde então conduz a marca com olhar técnico e inovador.

A Fazenda Recanto se beneficia de um terroir privilegiado: solo fértil, abundância de cana e uma natureza viva que cerca o engenho. “Aqui no raio de 30 a 40 quilômetros existem várias usinas, o que mostra como o clima e o solo são ideais para o cultivo da cana”, explica Henrique.


A destilaria cultiva as variedades RB 867515 e Roxinha, com adubação orgânica e colheita manual entre setembro e fevereiro. A produção segue boas práticas de fabricação e respeito ao meio ambiente.
“Nós somos uma propriedade rural, cercada de árvores, de animais, de frutas — isso faz parte do nosso terroir. A gente acredita em produzir cachaça de altíssima qualidade, mas com escala controlada, cuidando de cada detalhe.”
Henrique Tenório




Uma das grandes evoluções recentes da Gogó da Ema está no campo da fermentação. Henrique decidiu substituir o tradicional “pé de cuba”, feito com leveduras selvagens, pelo uso de cepas selecionadas da linha DistilaMax da Lallemand (CN, RM e SR) — as mesmas utilizadas em tequilas e whiskies de alta performance. A decisão veio depois de anos de observação e testes, com o desejo de unir o saber artesanal ao rigor técnico.

Essa mudança trouxe impacto profundo na rotina do engenho e no resultado sensorial da bebida. O processo tornou-se mais estável, com fermentações mais rápidas e controladas, menor variação de acidez e um reaproveitamento mais longo do fermento, que agora pode ser utilizado por até dois meses. Além de reduzir perdas e otimizar a produção, as novas leveduras transformaram o perfil aromático da cachaça, conferindo notas mais delicadas e frutadas, com nuances de flores e cana fresca, sem perder a pureza característica da bebida artesanal.
“As leveduras da Lallemand mudaram completamente o comportamento da fermentação. Hoje tenho um produto com acidez mais baixa, aroma mais frutado e um buquê muito mais refinado. Foi um divisor de águas.”
Henrique Tenório
A mudança também se refletiu no reconhecimento: a cachaça branca da Gogó da Ema, produzida com as novas leveduras, conquistou quatro medalhas em concursos nacionais e internacionais logo no primeiro ano — duas de prata, uma de ouro e uma de bronze.
Após a destilação em alambique de cobre, as cachaças são armazenadas e envelhecidas em bálsamo, jequitibá-rosa e carvalho francês. Entre os rótulos mais notáveis está a Gogó da Ema 4 anos, maturada exclusivamente em carvalho francês, que entrega notas de baunilha, mel, castanhas e leve toque amanteigado, com textura aveludada e final prolongado.




Apesar das conquistas, Henrique destaca que o setor ainda enfrenta desafios importantes — tanto no campo quanto na comercialização. A mão de obra qualificada continua sendo um dos principais gargalos durante o período de safra. “O maior desafio hoje é formar equipe. A gente começa a safra e ainda não tem cortador de cana suficiente. É difícil encontrar gente disposta e capacitada”, explica.
Outro ponto sensível está na comercialização e na representação comercial fora do estado. “É difícil encontrar representantes que vistam a camisa da marca, que entendam o valor de um produto artesanal”, comenta.
Por outro lado, há motivos para otimismo. Henrique observa um crescimento expressivo no número de novos engenhos surgindo no entorno da Gogó da Ema, especialmente na região entre São Sebastião e Junqueiro. “Hoje já temos cinco ou seis alambiques em construção aqui por perto, todos com projetos de porte considerável. Nos próximos dois anos, vários deles devem começar a produzir”, conta.
Esse movimento reforça a importância da Rota da Cachaça de Alagoas, iniciativa apoiada pela Secretaria de Turismo do Estado, que tem levado os produtores locais para feiras nacionais e internacionais. “É uma valorização real do nosso setor”, celebra Henrique. “A gente está começando a viver um momento parecido com o que aconteceu na Paraíba, onde boa parte da produção é consumida dentro do próprio estado. Espero que isso aconteça aqui também — que o público alagoano reconheça, consuma e se orgulhe da nossa cachaça.”
Para Henrique, cada gole da Gogó da Ema deve ser uma viagem pelas origens da marca, pela dedicação da família e pela força do povo alagoano.
“Quando alguém prova a nossa cachaça, quero que sinta uma experiência que carrega todo o nosso legado: o trabalho da equipe, o suor do campo, a tradição familiar e o amor por Alagoas. Tradição, cultura e história — isso resume tudo.”
Henrique Tenório
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Em 2010, Felipe Jannuzzi fundou o Mapa da Cachaça, premiado projeto cultural com reconhecimento internacional e a principal referência sobre cachaça no mundo. Felipe é um dos sócios fundadores da Espíritos Brasileiros, empresa pioneira no mercado de produção de gin no Brasil, responsável pelo premiado Virga, primeiro gin artesanal brasileiro e o único no mundo que leva doses de cachaça na receita. Desde 2021, é um dos sócios da BR-ME, empresa especializada em produtos brasileiros, como vinhos, cafés, azeites, queijos e chocolates.
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