Essa animação que sinto ao arrumar a mochila para uma nova viagem, incluindo itens essenciais como roupas, pasta de dente, escova, RG, chapéu e protetor solar, vem de uma galeria de experiências maravilhosas que tive nas minhas viagens pelo mundo. Não sei se vem de mim, de Deus, ou de nosso trabalho conjunto, mas sou grato de coração e quero que continue sempre assim, perfeito.
Numa das últimas viagens, cheguei à Serra da Canastra. Que esplendor de cachoeiras, montanhas, queijos e o som do violão caipira! Um detalhe me chamou atenção: ao chegar no sítio do seu Chico Chagas, fomos recepcionados com uma boa prosa, cafezinho passado no coador de tecido mantido quente no fogão a lenha, e cachaça com sassafrás!

Um vidro grande com sassafrás e cachaça estava ali no aparador de madeira. Embora parente da canela, o visual do sassafrás lembra mais raízes ou galhos finos cheios de raminhos. A cor é marrom escuro e transparente. O sabor é bem aromático, lembrando um pouco a canela, e estava doce, pois eles acrescentam açúcar, resultando em um licor leve. Cá entre nós, é um néctar dos Deuses, e essa é a intenção da família Chagas: oferecer esse aperitivo a todos os visitantes de forma amorosa, com o maior cuidado.
Fiquei pensando nesse ritual de oferecer um aperitivo caseiro à base de cachaça, é tão brasileiro. Com jabuticaba do quintal, limão, pitanga, até cobra dentro da cachaça já vi – mas isso eu não acho tão amoroso. Lembro dos adultos da minha infância cuidando deste ritual, separando uma cachaça artesanal, colocando numa garrafa com o sabor escolhido, geralmente uma fruta. Os mais aventureiros apareciam com alguma fruta exótica como a acerola ou a pitomba. Era uma competição familiar ver quem trazia a fruta mais exótica para misturar com a pinguinha.
As mulheres faziam misturas com leite condensado e as tias mais “chiques” faziam licor de Sonho de Valsa. As crianças adoravam lamber o cálice que ficava sobre a mesa. Essas são boas lembranças de carinho compartilhado e cuidados com o próximo.
Fiz rosquinhas, alimentei o forno, tomei mais licor de sassafrás e o dia foi ficando cada vez mais lindo. A conclusão é que a vida é feita de encantamentos, e nos encantamos pelo autêntico, original, algo que nos tira da rotina. A cachaça é algo tão brasileiro e pode ser apresentada de tantas formas, que tenho lembranças dela desde a infância com os licores e coquetéis familiares, nas festas importantes da minha vida, em tantas viagens… é como se fosse da família!
Será que é assim com o saquê no Japão, cerveja na Alemanha, ou whisky na Escócia? Deve ser…
No Brasil, temos cachaça de norte a sul, e esses licores caseiros para recepcionar visitantes estão carregados de tudo de bom, enchendo a boca e a alma. O licor de sassafrás no sítio do seu Chico cria uma intimidade imediata, acolhendo rapidamente o visitante. Eu fui direto para o forno a lenha, que estava sendo inaugurado naquele dia. Seu Chico e os filhos construíram um forno novo, alimentando-o a noite inteira para no dia seguinte, quando eu cheguei, assarem pães de queijo, biscoitos de polvilho, pães e roscas diversas. Foi um dia de sorte!

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O Mapa da Cachaça é um projeto cultural e educativo criado com o objetivo de divulgar e valorizar a cachaça, que é um patrimônio cultural e um dos símbolos da identidade brasileira.
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