Com o crescimento da coquetelaria e da demanda por cachaças em bares e restaurantes, muitos produtores estão buscando soluções que ofereçam eficiência operacional e preços mais competitivos. Nesse cenário, a embalagem bag-in-box (BIB), tradicionalmente usada no setor de vinhos e recentemente adotada por destilarias nacionais, desponta como uma alternativa moderna e sustentável. Mas a pergunta que surge é: a cachaça pode ser comercializada legalmente em embalagens de 5 litros?


A legislação brasileira estabelece limites claros. Segundo o Regulamento do IPI (RIPI/2010), bebidas alcoólicas classificadas no Capítulo 22 da TIPI — onde se enquadra a cachaça — só podem ser vendidas no varejo em recipientes com até 1 litro. No entanto, o artigo 44 do Decreto nº 7.212/2010 autoriza a saída de bebidas em recipientes de maior volume, desde que destinadas a estabelecimentos industriais, atacadistas, cooperativas ou engarrafadores. Bares e restaurantes, embora não estejam listados explicitamente, costumam ser atendidos via atacadistas ou distribuidores, desde que o uso da bebida seja restrito à produção de drinks ou venda de doses — jamais à revenda da embalagem original.
Essa leitura é confirmada por produtoras como Laura Vicentini, da Cachaça SôZé, que explica:
“Para CPF não temos licença para venda. Trata-se basicamente de um produto para o setor de serviços: hotelaria, restaurante e bar. A cachaça do BIB entra como matéria-prima.”
Laura, produtora da cachaça SôZé

Ou seja, quando comercializada para estabelecimentos devidamente cadastrados e com uso final comprovado, a bag-in-box de cachaça é legal e funcional — desde que respeitada a legislação fiscal e sanitária.
Além de estar em conformidade com a lei, a bag-in-box oferece vantagens logísticas e ambientais. Leve, empilhável e resistente, essa embalagem reduz custos de transporte e risco de quebras. O sistema de envase permite menor contato com oxigênio, protegendo o perfil sensorial da bebida mesmo após aberta, algo especialmente importante para bebidas fermentadas, como o vinho.
Outro ponto relevante é a sustentabilidade. A BIB gera menos resíduos do que garrafas de vidro ou recipientes plásticos rígidos, usa até 50% menos material, facilita o descarte consciente e reduz emissões de carbono no transporte. Esses aspectos a tornam especialmente atraente para bares que buscam reduzir o impacto ambiental de suas operações — e também para produtores que desejam alinhar seu produto a práticas ESG.
O produtor Carlos Magnum da cachaça Catetinha e Sete Cancelas é outro produtor de cachaça que aderiu ao bag in box para atender o mercado de bares e restaurantes de Brasília.
Eu só consegui entrar nos bares de Brasília depois que lancei a bag in box. Com uso consegui identidade local, sustentabilidade, uso rápido, economia e lucro para o bar e para o produtor.
Carlos Magnum, produtor da Catetinha e Sete Cancelas


Mas é fundamental reconhecer que a BIB não substitui o papel das garrafas de vidro. Estas continuam sendo a principal ferramenta de construção de marca e valorização do produto. O vidro ainda é a melhor embalagem para proteger a cachaça ao longo do tempo e expressar o cuidado estético e cultural do produtor. Por isso, o ideal é enxergar as duas estratégias como complementares: a garrafa como símbolo de valor e narrativa; a BIB como solução competitiva e funcional para o canal on-trade.
Por fim, é importante destacar que a informalidade ainda domina parte do mercado de bares, com uso de cachaças sem registro e sem controle de qualidade. A introdução de versões BIB regularizadas, seguras e de boa procedência pode ser uma resposta direta a esse problema — oferecendo preço competitivo, praticidade e legalidade para os profissionais da coquetelaria.
A bag-in-box pode ser o caminho para que a cachaça de qualidade amplie sua presença em bares e restaurantes, fortalecendo a cadeia formal, valorizando o produtor e abrindo novas possibilidades para o destilado mais brasileiro de todos.
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O Mapa da Cachaça é um projeto cultural e educativo criado com o objetivo de divulgar e valorizar a cachaça, que é um patrimônio cultural e um dos símbolos da identidade brasileira.
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